Isso é normal?
por Vitor Guilherme
Definir o que é considerado normal no comportamento humano é uma tarefa complexa, pois é preciso ponderar diferentes aspectos envolvidos, desde variações culturais e religiosas ao próprio contexto de cada pessoa e situação.
Sentir tristeza, ansiedade, raiva, angústia, frustração e tantas outras coisas pode ser normal - afinal, as emoções fazem parte da vida. Então, como diferenciar a tristeza comum da Depressão (ou, como chamados, Transtorno Depressivo Maior)? Quais as diferenças entre a ansiedade cotidiana e o Transtorno de Ansiedade Generalizada?
Infelizmente, para a maior parte dos transtornos mentais, não existe um exame específico para realizarmos os diagnósticos. Existem, sim, algumas exceções as quais os exames complementares serão necessários para confirmação diagnóstica, como no caso da Polissonografia em alguns transtornos do sono e da Neuroimagem em transtornos neurocognitivos específicos. Contudo, exceções à parte, os diagnósticos são feitos através da entrevista clínica, compreendo a história de vida da pessoa, quais são os sintomas presentes, como eles surgiram e quais as principais causas para aquelas manifestações.
Justamente por isso, na prática, existem alguns critérios de (a)normalidade principais que nós utilizamos para diferenciar situações normais das anormais:
1) Quando aquela emoção ou comportamento traz um importante sofrimento ao indivíduo.
"Não é uma simples tristeza. É uma tristeza com desconforto, com angústia, crises de choro ou sintomas no corpo. Pode afetar o sono, o apetite; as vontades"
2) Quando compromete a funcionalidade cotidiana.
"Aquela emoção ou comportamento está afetando o desempenho no trabalho, estudos, relações com familiares, amigos ou cônjuges. Ou, ainda, o próprio autocuidado."
3) Quando persiste por um período sustentado de tempo.
"Os sintomas persistem por dias, semanas ou meses. Ou, então, são recorrentes. Diferentes transtornos mentais possuem diferentes critérios de tempo, mas, de forma geral, destaca-se a importância da persistência dos sintomas como ponto de anormalidade".
Ainda assim...
É importante ressaltar que estes critérios, assim como outros existentes, não devem ser considerados isoladamente, mas dentro de um conjunto de fatores, que considera os mecanismos pelos quais o comportamento disfuncional aconteceu, quais os fatores agravantes e/ou associados, quais os fatores de risco envolvidos e outros pormenores.
Em resumo, a maioria das coisas que pensamentos, sentimos ou fazemos pode ser considerado normal, a depender da intensidade, impacto e frequência da manifestação. Isso tudo aplicado às características individuais e sociais.
Referências
1. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Paulo Dalgalarrondo, 3ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2019.
2. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. APA, 5ª edição - texto revisado. Porto Alegre: Artmed, 2023.