
O sono e seus transtornos
Por que dormir é tão importante para a nossa saúde?
O que é o sono?
O sono é um estado fisiológico essencial para o bem-estar e para a saúde geral, ocupando papel importantíssimo na prevenção e no tratamento de transtornos mentais.
Podemos dividir o sono em dois grupos: sono REM (do inglês, rapid eye movement) e sono não-REM, que é subdivido em estágios N1, N2 e N3. Diferentes fenômenos fisiológicos acontecem ao longo destas etapas.
Como é o nosso sono quando dormimos?
Muitas pessoas acreditam que, ao dormir, vamos de um "sono leve" a um "sono profundo" para depois acordarmos. Embora seja um pensamento comum, não é bem assim que acontece...
A arquitetura habitual do sono é constituída por quatro a seis ciclos ao longo de uma noite, formados por sono REM e não-REM. Ou seja, na prática, alternamos naturalmente entre períodos de sono “mais leve” e períodos de sono “mais profundo”.
Hipnograma mostrando os diferentes estágios do sono ao longo da noite. (ABP, 2022)
Como saber se durmo bem?
O bom sono depende de vários fatores. A regularidade de horários e a diferença luz-escuro (exposição à luz durante o dia e ao escuro à noite) são pontos importantes. Em relação a quantidade de sono por dia, a duração recomendada pela Associação Brasileira de Psiquiatria varia conforme a faixa etária:
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0 a 3 meses: de 14 a 17 horas
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4 a 11 meses: de 12 a 15 horas
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1 a 2 anos: de 11 a 14 horas
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3 a 5 anos: de 10 a 13 horas
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6 a 13 anos: de 9 a 11 horas
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14 a 17 anos: de 8 a 10 horas
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18 a 64 anos: de 7 a 9 horas
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A partir dos 65 anos: de 7 a 8 horas
* Contudo, é importante ressaltar que a necessidade de sono é determinada por características genéticas e fisiológicas individuais. Estima-se que algumas pessoas sejam naturalmente dormidores curtos e outros dormidores longos.
Indicadores de qualidade de sono:
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Dormir a maior parte do tempo na cama (pelo menos 85% do tempo total)
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Adormecer em 30 minutos ou menos
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Se acordar durante o sono, permanecer acordado por 20 minutos ou menos (conseguindo voltar a dormir)
Quais são os transtornos do sono?
Atualmente, nós utilizamos três referências principais para diagnosticar e classificar os transtornos do sono: o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, 5a edição – texto revisado (DSM-5-TR), a 3ª edição da Classificação Internacional dos distúrbios do sono (ICSD-3) e a 11ª edição da Classificação Internacional de doenças (CID-11). Diferentes denominações e divisões podem ocorrer entre estas referências.
Alguns dos principais transtornos do sono-vigília segundo o DSM-5-TR:
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Transtorno de Insônia
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Transtorno de Hipersonolência
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Narcolepsia
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Transtornos do sono relacionados à respiração
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Transtorno do Pesadelo
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Síndrome das Pernas Inquietas
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Transtorno Comportamental do sono REM
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Entre outros...
Polissonografia
A Polissonografia é um exame complementar que tem como objetivo estudar a estrutura do sono e as funções respiratórias ao dormir. Em pacientes específicos, tem papel central na confirmação diagnóstica. Tradicionalmente, é feita durante uma noite a qual o paciente dorme no laboratório do sono/clínica. Utilizam-se sensores que monitoram respiração, função cardiopulmonar, movimentos corporais e outros. Em alguns casos, há gravação por vídeo do sono para avaliar parassonias e alterações comportamentais ao dormir.
Polissonografia. Reprodução internet.
Actigrafia
A actigrafia é um exame complementar que utiliza um actígrafo – aparelho semelhante a um relógio de punho -, capaz de analisar estágios de movimento e repouso com ajuda de acelerômetros. Apesar de não possuir a mesma precisão da Polissonografia, estudos mostram boa concordância (resultados semelhantes) entre os dois exames. Dentre as vantagens da actigrafia, destacam-se a praticidade (paciente pode dormir em casa com o aparelho) e a possibilidade de registro de várias noites seguidas.
Modelo de actígrafo. Reprodução internet.
Como é feito o tratamento de transtornos do sono?
A higiene do sono assume um papel de destaque no tratamento, devendo ser implementadas em todos os transtornos do sono. Trata-se de um conjunto de medidas que visam otimizar hábitos para dormir e melhorias no ambiente do sono. Alguns pontos principais incluem:
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Horários: ir para a cama sempre no mesmo horário e sair da cama no mesmo horário; reduzir o tempo de permanência na cama; sair da cama logo ao acordar; controlar ou eliminar o cochilo diurno.
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Ambiente: o quarto de dormir ideal deve ser confortável, quieto, escurecido, relaxante, com temperatura amena e com privacidade. Deve-se evitar TV, computador, tablet, videogame e celulares.
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Atividades: exposição a luz solar ao longo do dia; atividade física (até 4 a 6 horas antes de se deitar), rotina de relaxamento antes do sono (desacelerar)
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Alimentação: controlar a ingestão de líquidos no final do dia; ter horários regulares para as refeições, sendo o jantar uma refeição leve e em torno de 04 horas antes do sono; controlar consumo de cafeína, álcool e cigarro à noite.
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Atitudes à noite: evitar insistência em pegar no sono; no caso de não adormecer, deixar a cama e aguardar o sono.
Outros tratamentos
Quando estamos diante de um transtorno respiratório do sono, por exemplo, uma abordagem integrada e multidisciplinar se torna ainda mais importante. Em alguns casos, há a indicação de terapia fonoaudióloga miofuncional orofacial, ou então de uso de dispositivos, como o CPAP. Existe a possibilidade também de intervenções cirúrgicas, em casos selecionados, conforme fatores que possam estar ocasionando ou agravando o transtorno respiratório.
Modelo de CPAP. Reprodução internet.
E quanto aos “remédios para dormir”?
Embora o ideal seja um sono natural e não-farmacológico, nem sempre essa é uma situação alcançada com rapidez. Também sabemos que, apesar de fundamentais, conseguir alcançar todos os hábitos da higiene do sono é difícil, seja por conta da rotina que vivemos ou de peculiaridades do cotidiano. Por diversas vezes, é preciso ponderar o custo x benefício de se acrescentar uma medicação para o sono, analisando possíveis consequências do remédio e os benefícios de o paciente conseguir dormir melhor.
Existem diferentes opções farmacológicas que podem ser utilizadas a depender das características do transtorno do sono e do paciente. Há remédios para indução do sono (quando o problema é o “pegar no sono”, também chamado de insônia inicial) e para manter o sono (quando o problema é “acordar várias vezes a noite” ou “acordar antes do programado”, também chamado de insônias de manutenção e terminal, respectivamente). Também há remédios para sonolência diurna excessiva, que ocorre em situações de sono não-reparador, como na Narcolepsia.
Para isso, contamos com um arsenal terapêutico de diferentes classes medicamentosas. Hipnóticos, benzodiazepínicos, antidepressivos, antipsicóticos e psicoestimulantes são as principais categorias de medicamentos escolhidas. Apesar dos nomes, como “antidepressivo” ou “antipsicótico”, são medicações que possuem diferentes efeitos neuroquímicos no cérebro, podendo, a depender de dosagem e de como são prescritas, auxiliar na melhora da qualidade e quantidade de sono.
Referências
1. Tratado de Psiquiatria. Associação Brasileira de Psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2022.
2. DSM-5-TR. Washington: American Psychiatric Publishing, 2022.



